Veículo: O Estado de S.Paulo
Jornalistas: Amanda Pupo e Marlla Sabino
O governo federal anunciou ontem acordo com a Universidade de Oxford (Reino Unido) e o Laboratório AstraZeneca para fabricação em território nacional de uma possível vacina contra a covid-19. Na primeira fase, o País produzirá 30,4 milhões de doses, previstas para dezembro e janeiro. Segundo o governo, com a confirmação de que o imunizante – considerado o mais promissor em testes – é eficaz e seguro, as vacinas poderão ser distribuídas imediatamente para a população. A previsão total é de fabricar até 100 milhões de doses.
Pelo acordo do Brasil para ter a vacina de Oxford, a fabricação ficará por conta da Bio-Manguinhos, entidade da Fiocruz responsável por produzir imunizantes, e o investimento pode chegar a US$ 288 milhões (cerca de R$ 1,58 bilhão). Para o 1º lote, grupos prioritários serão atendidos, o que inclui idosos e pessoas com comorbidades.
“Comprovada a eficácia, existe um processo de liberação junto à Anvisa, mas claro que haverá maior celeridade possível nisso, e imediatamente começa-se então a distribuição”, disse o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto. Nesta semana, a cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde, Soumya Swaminathan, disse que a vacina de Oxford é a “mais avançada” em “termos de desenvolvimento”.
O 1º lote no Brasil, com 15,2 milhões de doses, é esperado para dezembro. A outra metade está prevista para janeiro. Conforme o ministério, se a vacina obtiver registro no País, haverá um segundo momento do acordo, em que serão produzidas mais 70 milhões de doses. Segundo a pasta, o governo chegou ao número total de 100 milhões de doses para que a cobertura inicial atinja todos os idosos, profissionais da saúde, professores, indígenas, detentos, profissionais da segurança pública, de salvamento, e motoristas de transporte coletivo.
Os técnicos da pasta enfatizam que a vacina só será administrada se ficar comprovada a eficácia e segurança. Mas para a 1ª fase da parceria, o Brasil assume os riscos da pesquisa – a tecnologia será paga mesmo sem os resultados finais dos ensaios clínicos. Para o ministério, o
“risco de pesquisa e produção é necessário devido à urgência pela busca de solução efetiva para manutenção da saúde pública e segurança para a retomada do crescimento brasileiro”.
Na fase inicial da parceria, que envolve a produção de 30,4 milhões de doses, o investimento total será de US$ 127 milhões (cerca de R$ 695 milhões).
Na segunda etapa, caso as outras 70 milhões de dose também sejam produzidas, serão mais US$ 161 milhões (cerca de R$ 882 milhões). Nesse cenário, o valor estimado por unidade é de US$ 2,30 (R$12,60). A Fiocruz prevê que a Bio-Manguinhos possa chegar à escala de fabricação de 40 milhões de doses mensais sem prejudicar as outras produções.
Segundo a diretora de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Camile Sachetti, depois do Reino Unido, o Brasil foi o primeiro a iniciar os estudos de eficácia deste imunizante, sendo o único estudo clínico na América Latina. “Já estamos com muitos pacientes incluídos, o estudo está acontecendo no Rio, São Paulo, e também a Bahia será um dos centros que irão recrutar.”
O governo espera ter resultados preliminares da eficácia da vacina entre outubro e novembro. Sobre o estágio da parceria, o ministério diz que uma carta de intenções já foi enviada ao Reino Unido, e que o acordo será efetivado por contrato que já está sendo encaminhado pela Fiocruz e a AstraZeneca.
Com a parceria, o Brasil também tem a previsão de produzir, em algum momento, o princípio ativo da vacina, que nesta 1ª fase será importado. Angotti Neto disse que isso dependerá do avanço das pesquisas. “Observamos no mercado que muitas vezes produzir é mais caro que importar, mas temos visão de que poder desenvolver o ativo tem valor estratégico.”
Angotti afirmou ainda que é possível haver menção na próxima nota informativa do ministério à dexametasona, corticoide que apresentou resultados positivos na redução de mortalidade de casos graves de covid-19 no Reino Unido. Segundo ele, já há 468 projetos de pesquisa voltados à covid-19 aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), envolvendo tratamento, vacinação e estudos de histórico da enfermidade.
Parceria chinesa
No 11, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou outra parceria para a produção de uma vacina, entre o Instituto Butantã e o laboratório chinês Sinovac Biotech. O imunizante já estaria na 3ª fase de testes, última antes da distribuição. O acordo prevê testes clínicos da vacina no Brasil com 9 mil voluntários a partir de julho.