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26/08/2020
ARTIGO: A velocidade das pesquisas

Veículo: Folha de S.Paulo

Colunista: Esper Kallás

Para uma doença infecciosa que conhecemos há pouco mais de seis meses, o grande montante de descobertas científicas e o rápido desenvolvimento de produtos médicos são impressionantes. Essas descobertas vão de medicamentos a vacinas, incluindo métodos inovadores de proteção, que vêm sendo intensamente perseguidos e estudados. São milhares de projetos de pesquisa, em vários países.

Pode-se argumentar que, apesar de todo o esforço, ainda sofremos com a pandemia, sem uma solução definitiva. E é verdade. Por outro lado, nunca um avanço tão rápido na curva de conhecimento foi testemunhado na história, em quaisquer das epidemias já conhecidas, incluindo a de Aids.

Os primeiros casos foram identificados em dezembro de 2019. A sequência genética do vírus foi publicada já no início de janeiro.

Guardadas as devidas reservas de comparação, talvez seja possível traçarmos um paralelo com o volume e velocidade das descobertas desencadeadas durante a primeira e a segunda guerras mundiais, citando exemplos recentes na história. Atravessamos um período de intensa crise sem que uma única bala tenha sido disparada. O inimigo não respeita quaisquer ideologias ou fronteiras geográficas. De forma agressiva, reduz acesso ao ar, substrato mais urgente para a manutenção da vida.

São muitos os avanços: sabemos como o vírus é transmitido, como pode agredir os diversos sistemas (especialmente o respiratório), temos diferentes formas de fazer o diagnóstico da infecção, melhoramos o tratamento de casos graves em UTI, aprendemos que o uso de anticoagulantes e corticoides ajuda a tratar pacientes com doença mais agressiva, já vemos despontar os primeiros antivirais e contamos com impressionantes 173 vacinas em desenvolvimento. Sabemos, ainda, sobre o que não funciona nos casos de Covid-19.

Nada disso surgiu ao acaso. A maioria das descobertas está alicerçada em inúmeras pesquisas que já estavam em andamento, antes mesmo da chegada da pandemia. Muitos desses medicamentos foram previamente estudados para tentar tratar outras viroses, como as que causam febre amarela, ebola e zika.

A celeridade sem precedentes em pesquisas para encontrar uma vacina contra a Covid-19 também não é fruto do acaso. Os projetos estão ancorados em plataformas de desenvolvimento de vacinas contra HIV, malária e tuberculose. Temos vacinas novas contra essas três doenças? Não. Valeu a pena investir tanto? A resposta é um ressonante "sim".

É imensa, ou antes imensurável, a importância do investimento em pesquisas como um dos pilares fundamentais no enfrentamento a epidemias, provocadas por germes que causam doenças emergentes ou reemergentes. Um melhor conhecimento sobre esses agentes, especialmente os que têm mais potencial para causar problemas de saúde pública, deve ser considerado prioritário para receber atenção e verbas regulares.

O Brasil não é exceção na luta contra a Covid-19. As pesquisas têm sido construídas a partir de grupos já estabelecidos em instituições públicas e privadas. O investimento em resposta à pandemia, embora menor do que em países com parque tecnológico mais estabelecido, tem ajudado a impulsionar vários projetos e trazido novos grupos ao cenário da ciência nacional.

Os países que criarem um ambiente favorável, que resulte em desenvolvimento e inovação científica, com estratégias de prevenção e tratamento de doenças infecciosas, sairão à frente para proteger as populações.

Essa é uma questão estratégica e não devemos perder tempo.

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