Veículo: O Estado de S.Paulo
Jornalistas: Mônica Scaramuzzo e Dayanne Sousa
Ao anunciar a compra da Neo Química no fim de 2009 e da Mantecorp em 2010, o grupo Hypermarcas tinha uma estratégia bem definida para o setor farmacêutico: atingir a liderança nos principais segmentos de medicamentos.
Desde então, a companhia tem aumentado sua participação de mercado, avançando sobre seus principais concorrentes.
Neste primeiro trimestre, conquistou a vice-liderança da venda totais de medicamentos, atrás do grupo EMS, com sede em Hortolândia, de acordo com dados da consultoria especializada em saúde IMS Health.
Ontem, durante teleconferência de divulgação de resultados, o presidente da companhia, Cláudio Bergamo, afirmou que o objetivo do grupo a partir de agora será “distanciar a empresa cada vez mais” da concorrência.
No primeiro trimestre deste ano, a Hypermarcas encerrou com receita líquida de R$ 1,059 bilhão, um crescimento de 10,5% sobre o mesmo período do ano passado. As vendas da divisão de consumo atingiram alta de 7,8% no período, para R$ 447milhões. Já a área farmacêutica, que já responde por 58% dos negócios do grupo, teve aumento de 12,5%, encerrando o período com vendas de R$ 612 milhões. O lucro líquido da companhia no primeiro trimestre ficou em R$ 90 milhões,queda de 11,8% sobre os primeiros três meses do ano passado.
A divisão farmacêutica tem ganhado cada vez mais espaço nos negócios do grupo. Em 2013, a companhia encerrou com receita líquida de R$ 4,26 bilhões. A área farmacêutica respondeu por 54,7% do total das vendas, ante 53,6% em 2012.
De acordo com Bergamo, o atual nível de participação de mercado da companhia é recorde.
Ele destacou que, segundo o critério de PPP (Pharmacy Purchase Price) do IMS Health, a empresa atingiu em março o primeiro lugar do ranking entre as maiores farmacêuticas do Brasil.
Segundo ele, a divisão farma tem hoje uma fatia de 9,9% do mercado de medicamentos. A fábrica da Neo Química, analisada separadamente, foi a líder em participação de mercado em março em unidade.
Concorrência. Até 2011, o grupo francês Sanofi, dono da Medley, ocupava o ranking no topo das vendas totais de medicamentos em unidades vendidas.
A EMS ultrapassou o grupo francês em 2013, e agora a Hypermarcas, de acordo com dados do IMS Health até março, atingiu a vice-liderança (ver gráfico acima).
“A Sanofi está abrindo mão de market share (participação) para priorizar rentabilidade. Essa será a estratégia que as indústrias farmacêuticas estão adotando para poder pagar as contas”, disse uma fonte do setor.
Segundo a mesma fonte, as indústrias nacionais sempre priorizaram os altos descontos para avançar em participação.
Bergamo afirmou que a meta da companhia é registrar expansão acima do mercado tanto na divisão consumo como na divisão farma. No momento, destacou, a companhia tem conseguido ganhar fatia de mercado apenas na divisão de medicamentos.
De acordo com ele, a empresa está finalizando o processo de integração das operações de consumo em Goiás e isso permitirá que a companhia consiga concentrar esforços em marketing e inovação para crescerem ritmo mais acelerado.
Segundo Bergamo, o ambiente macroeconômico menos favorável tem levado os consumidores buscarem produtos de preço mais baixo.
O executivo destacou que,no curto prazo, a divisão consumo pode sentir os efeitos de volatilidade que podem ser provocados pela Copa do Mundo. “É um efeito hoje totalmente imprevisível Não sabemos o que vai acontecer com a Copa, pode ser que fomente ou não o consumo”, declarou.
A trajetória de expansão do grupo Hypermarcas, empresa fundada pelo empresário goiano João Alves de Queiroz Filho, mais conhecido como Júnior, por muitos anos foi respaldada por pesadas aquisições, uma estratégia para conquistar mercado e arrebanhar marcas.
Há três anos,contudo, a companhia nacional começou a desinchar, com a venda de negócios considerados pouco estratégicos para se concentrar em duas divisões – bens de consumo e farmacêutica.
Em 2011,o grupo decidiu vender seus ativos de alimentos e limpeza,justamente os que marcaram o início do império de Júnior.
O grupo se desfez de um pacote de importantes marcas, como Assolan, Perfex, Etti, Salsaretti, em operações que somaram R$ 445 milhões.
Ao concentrar os negócios em duas divisões, o grupo foi ao mercado buscar executivos para promover a expansão desses segmentos. Luiz Eduardo Violland (ex-Nycomed) chegou em 2011 para a área farmacêutica e o alemão Nicolas Fischer (exNivea), em 2012, para o setor de consumo.
Goiás. A estratégia da companhia, que chegou a investir cerca de R$ 8,5 bilhões em aquisições desde sua criação, é focar no crescimento orgânico e gerar maior valor ao negócio. A empresa promoveu um longo processo de reestruturação, transferindo-se para Goiás. A cidade de Anápolis recebeu suas plantas farmacêuticas e as principais unidades de consumo foram para Senador Canedo.