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28/11/2019
Eixo estratégico em todas as etapas

Veículo: Valor Econômico, revista Inovação 

Jornalista: Simone Goldberg

Inovação é palavra recorrente nas empresas dos setores farmacêutico e de cosméticos. Mais do que prioridade, o tema é visto como estratégico, impulsionando parcerias para agilizar pesquisa e desenvolvimento de produtos. É o que vem fazendo o laboratório multinacional Roche Farma, o brasileiro Eurofarma e as gigantes dos cosméticos Natura e o Grupo Boticário, que mantêm acordos de cooperação diversos, incluindo universidades, centros de pesquisa, startups e outras empresas.

O Boticário conta com um centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação capaz de desenvolver até 2,5 mil produtos por ano. Todo o processo está estruturado como um sistema integrado, dividido em duas áreas: pesquisa e desenvolvimento, reunindo os times de redes de inovação e design, que trabalham na busca de soluções inovadoras para a indústria, produtos e embalagens. “Na área de tecnologia da informação, temos o BotiLab, que funciona como incubadora e aceleradora de startups”, conta o diretor de operações do Grupo Boticário, Sérgio Sampaio.

Um exemplo de parceria bem-sucedida envolveu a IBM e a casa de fragrâncias Symrise na criação do Phylira: com base em algoritmos avançados, o sistema identifica novas possibilidades de combinações de fragrâncias, que resultaram, segundo o Boticário, nos primeiros perfumes criados com a ajuda de inteligência artificial do mundo. Os produtos foram lançados neste ano.

Para a Natura, outro peso-pesado do setor e que trabalha há cerca de 20 anos com inovação aberta, o programa Natura Startups é uma das iniciativas para atrair empreendedores, por meio de desafios perenes, e acelerar inovações. Os selecionados têm oportunidade de desenvolver produtos em conjunto. Podem ter coaching ou um espaço físico para trabalhar. Vai depender do estágio de maturidade da startup. Mais de 70 já testaram suas soluções com a Natura e 27 se tornaram parceiras efetivas da empresa.

“Inovação é algo que permeia tudo no curto, longo e médio prazos. Estamos num momento de trabalharmos cada vez mais a inovação transversal”, destaca o diretor de inovação digital, Luciano Abrantes. A empresa também organiza desafios temáticos e outros, mais abertos. Na linha deste último, lançou em outubro de 2019 o ‘Innovation Challenge Zero Waste’, uma chamada global à rede de inovadores com foco no combate à geração de resíduos e a poluição por plástico.

“Todas as iniciativas com potencial de resolver o desafio serão analisadas pelo time da Natura, e as soluções escolhidas poderão realizar parcerias e receber investimentos para se tomarem viáveis”, diz o executivo. A empresa inaugurou em julho passado o novo Laboratório de Desenvolvimento de Fórmulas, em Cajamar, equipado para reduzir o tempo em que inovações chegam ao mercado.

No setor farmacêutico, o cenário é semelhante. A Eurofarma anunciou, em meados deste ano, o fundo de investimento Axon Ventures, com foco em projetos de tecnologia na cadeia de saúde. É mais uma frente de inovação da empresa, que já auxilia projetos científicos e acadêmicos a se transformarem em negócio - em julho, 16 projetos foram escolhidos - e mantém o programa Synapis, voltado para empreendedores. Este ano, oito empresas foram selecionadas.

Segundo Martha Penna, vice-presidente de inovação da Eurofarma, os investimentos crescentes - foram R$ 252 milhões, em 2018, em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos - têm dado retorno concreto: a farmacêutica colhe os melhores resultados do mercado sobre lançamento de produtos. Lançou, em outubro passado no Brasil, por exemplo, o inovador Belviq, indicado para obesidade e sobrepeso, com garantia de segurança cardiovascular.

O laboratório tem mais de 200 projetos no pipeline de inovação. A meta é atingir três alvos: inovação incrementai, inovação radical - via licenças, trazendo para o Brasil e a América Latina medicamentos novos ainda não disponíveis e comercializados em mercados regulados, como os Estados Unidos, Europa ou Ásia - e inovação radical com foco em anti-infecciosos, desenvolvendo fármacos totalmente novos.

Um exemplo desse esforço é a parceria firmada no ano passado pela Eurofarma com a Embrapii Cqmed/ Unicamp (Centro de Química Medicinal de Inovação Aberta), credenciada à Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), e o laboratório Aché para o desenvolvimento de novos anti-infecciosos e oncológicos. Outro é o acordo de cooperação firmado em meados deste ano com o Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio), da UFRJ, para identificação de novas moléculas visando ao desenvolvimento de novos medicamentos, capacitação de recursos humanos e absorção e transferência de tecnologia.

Já a Roche Farma Brasil junta elos para formar uma cadeia de inovação por meio de dois programas. Um deles, o desafio Roche de startups, que conta com parcerias da consultoria Innoscience e do StartSe, hub de empreendedorismo, teve sua terceira edição este ano. O tema foi soluções de medicina personalizada com tecnologias capazes de melhorar indicadores de diagnósticos e, consequentemente, impactar as terapias médicas.

A startup vencedora foi a PreviNEO, com um projeto de monitoramento, identificação e diagnóstico precoce de diferentes tipos de tumores. “O time da startup agora terá seu projeto impulsionado no digital health accelerator com a Roche, na Alemanha”, informa Lenio Alvarenga, diretor médico da Roche Farma Brasil.

Em outra frente, a farmacêutica toca o programa ASTRo (Applied Science Trail Roche), voltado para universidades ou instituições de pesquisa. O objetivo é aproximar a academia e o mundo corporativo. “Já está na segunda edição, e a Roche Brasil busca oportunidades de parcerias e sinergias locais para o desenvolvimento de moléculas”, conta o executivo. Na primeira edição, foram selecionados seis grupos de pesquisa. Neste ano houve 12 finalistas, dos quais 11 grupos são de universidades públicas.

No Brasil, a empresa, que já envolveu cerca de 170 centros de pesquisa em estudos, vem investindo mais de R$ 430 milhões em pesquisa clínica nos últimos três anos. “Em 2018, conduzimos 65 estudos localmente, para vários tipos de câncer, Alzheimer, esclerose múltipla, doenças degenerativas nos olhos, entre outras”, diz Alvarenga.

 

Biotecnologia: Potencial para ser explorado

Jornalista: Andréa Vialli

Em junho de 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a insulina inalável para controle da glicemia em pacientes diabéticos. Quando aspirada antes das refeições, a insulina, em pó, é absorvida pelos pulmões e atinge rapidamente a corrente sanguínea, com pico de ação entre 12 e 15 minutos após o uso. Será produzida pelo laboratório Biomm, de Nova Lima (MG), que fez um acordo com a farmacêutica Mannkind, dos Estados Unidos, desenvolvedora do produto.

Por trás da ação ultrarrápida da insulina inalável está um pacote de tecnologia que inclui o desenvolvimento de 700 patentes ao longo dos últimos 20 anos, sendo 21 depositadas no Brasil, e um investimento de US$ 2 bilhões. De acordo com Heraldo Marchezini, CEO da Biomm, o domínio da tecnologia de fabricação vai trazer produtividade e ampliar o acesso público e privado ao medicamento. “Em biotecnologia, o processo de produção é importantíssimo, e trazer a tecnologia para o Brasil, em si, já é inovador”, diz o executivo.

De capital aberto, a Biomm nasceu a partir do spin-off da Biobrás, empresa mineira de biotecnologia que foi adquirida em 2001 pelo grupo dinamarquês Novo Nordisk. A empresa já tinha expertise na produção do hormônio e agora ampliará seu portfólio. Além da insulina inalável, o laboratório teve aprovado também este ano o trastuzumabe, medicamento biossimilar desenvolvido pela sul-coreana Celltrion Healthcare para tratamento do câncer de mama do tipo HER2+ (os tumores mais agressivos, que respondem por 20% dos casos). Ambos os medicamentos aguardam a definição de preços pelos órgãos reguladores para serem lançados no mercado.

Os biofármacos são considerados a bola da vez na indústria farmacêutica: 80% dos medicamentos em desenvolvimento no mundo têm origem na biotecnologia. Dominar a tecnologia é vital para o país, que ainda é muito dependente de importações - os produtos biológicos representam cerca de 60% dos gastos públicos com medicamentos, apesar de representarem apenas 12% em quantidade. “O Brasil precisa reativar o desenvolvimento nessa área, pois há espaço e demanda”, diz Marchezini.

Segundo a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), o desenvolvimento do setor no Brasil pode atrair pelos próximos 20 anos um volume de investimentos de US$ 400 milhões, com aumento real do Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 160 bilhões e geração de 217 mil postos de trabalho qualificados.

Fármacos, cosméticos, biocombustíveis de segunda geração, polímeros e fertilizantes de base renovável estão entre os principais produtos em que o país poderá ser competitivo, aponta Thiago Falda, presidente da ABBI. “Temos matérias-primas para o desenvolvimento industrial, mão de obra qualificada, biomassa barata e a maior biodiversidade do planeta”, diz.

O que falta é uma política industrial voltada para o setor e um ecossistema que favoreça a inovação de base biotecnológica, com menor burocracia e mais iniciativas de fomento. Um dos passos nessa direção foi a criação da frente parlamentar mista pela inovação da bioeconomia: formada por 212 deputados e 12 senadores, foi lançada em junho deste ano e tem apoio de sete entidades setoriais, duas universidades e seis ministérios.

Empreender em biotecnologia ainda é um caminho tortuoso. Falta apoio fora das universidades e são poucas as linhas de crédito especificas para startups do segmento. A principal delas é o programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que apoia empreendedores em níveis variados de maturidade.

O programa foi criado em 1997 e já apoiou financeiramente mais de 1,3 mil empresas e 2 mil projetos de pesquisa, com recursos não reembolsáveis que vão de RS 200 mil a RS 1 milhão da Fundação.

A Sugarzyme, de São José dos Campos (SP), é uma delas a startup desenvolve produtos para a indústria cosmética e farmacêutica por meio de processos biotecnológicos, utilizando resíduos da agroindústria, como o bagaço de cana-de-açúcar. O carro-chefe são a tintura e o alisamento capilar com ativos da biomassa, mas a empresa já desenvolveu mais de 20 compostos que podem servir de matéria-prima para esses segmentos.

Após trabalhar em grandes empresas como Natura e Johnson &Johnson, Rosa Maria Biaggio, farmacêutica com doutorado em biotecnologia, fundou a startup com R$ 200 mil do Pipe, o que a ajudou a estruturar o laboratório. Depois, investiu também cerca de R$ 100 mil do próprio bolso no desenvolvimento dos produtos, testes e patentes. Biaggio tem participado de rodadas de negócios voltadas a startups inovadoras, mas sofre com a falta de visão dos potenciais investidores, que preferem empresas mais rentáveis no curto prazo. Biotecnologia custa caro e o potencial de retorno é no longo prazo, então os investidores preferem investir em empresas de TI e desenvolvedores de aplicativos”, afirma.

A crescente demanda por ingredientes de base natural no segmento de cosméticos tem levado grandes multinacionais do setor químico a investir no segmento. A alemã Basf entrou este ano no mercado de ingredientes naturais para aromas e fragrâncias, com a aquisição da Isobionics, empresa holandesa de ingredientes aromáticos à base de biotecnologia, com foco em componentes de óleos cítricos. “Há uma tendência global de migração para ingredientes naturais no mercado de cosméticos, embora exista ainda uma limitação da produção desses componentes”, diz Camila Lourencini, gerente de negócios de ingredientes aromáticos para a América Latina da Basf.

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