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26/05/2021
Fórum de Saúde Brasil: Quebra de patente de vacinas teria efeito lento para a crise atual

Veículos: O Globo e Valor Econômico

Jornalistas: Pollyanna Brêtas e Letícia Helena*

A quebra de patentes de vacinas contra o novo coronavírus pode não acelerar a oferta de imunizantes como se imagina diante da crise atual. A avaliação é de especialistas que participaram do Fórum de Saúde Brasil, na última segunda-feira.

O encontro — promovido pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico e pela revista Época — debateu o papel da indústria farmacêutica na garantia de vacinas seguras contra a Covid-19 e contou com a participação de Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm); José Carlos Felner, presidente da GSK Brasil; e Mauricio Zuma, diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz.

VÍDEO: Veja a íntegra do vídeo da Mesa 1

A discussão das patentes tomou novo fôlego após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defender a suspensão das regras de propriedade intelectual relacionadas às vacinas contra a Covid-19.

A proposta, encabeçada por Índia e África do Sul, faz parte de um esforço para democratizar o acesso ao imunizante. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de quase 1,5 bilhão de doses já aplicadas, apenas 0,3% chegou à população que vive em países pobres.

Embora os efeitos de médio e longo prazo possam ser benéficos, Zuma avalia que a quebra de patentes não conseguirá ampliar a oferta imediatamente.

Ele explicou que a medida não garante que os países conseguirão produzir o imunizante, tarefa que depende de transferência de tecnologia, conhecimento e processos industriais complexos.

— Olhando pelo lado da produção da vacina, não adianta. O fato de fazer o licenciamento compulsório não vai estabelecer a produção rápida da vacina. Pelo contrário. Há casos em que será preciso voltar para a fase de estudos clínicos. Então, isso pode levar uma enormidade de tempo e não vai ajudar neste momento — observou.

Cooperação técnica

Os debatedores lembraram que quebras de patentes para medicamentos — como ocorreu no coquetel anti-Aids — e para vacinas são processos diferentes, tanto na questão dos testes clínicos quanto nas etapas de produção e distribuição do imunizante. Felner observou que as patentes de vacinas têm regulamentação própria. Segundo ele, a indústria farmacêutica está disposta a negociar desde que a medida fique restrita aos insumos para combate à pandemia e que todo o processo de utilização da tecnologia seja acordado previamente:

— Feito desta maneira atabalhoada não vai adiantar. Você tem que transferir conhecimento. Tem equipamento específico. Tem toda uma prática — disse o presidente da GSK Brasil.

Isabella ressaltou o momento de cooperação técnica entre público e privado e os esforços envolvendo a indústria farmacêutica e o Instituto Butantan e a Fiocruz para a produção e distribuição de vacinas no Brasil.

— O país tem duas grandes transferências de tecnologia ocorrendo neste momento. O que nos dá segurança para o futuro é ter essa produção — afirmou.

De acordo com Felner, hoje estão em desenvolvimento no mundo 173 vacinas em estágio pré-clínico, ou seja, na fase de estudo e antes de testes para sua validação; e outros 63 imunizantes em desenvolvimento clínico, com dez plataformas tecnológicas diferentes. Ele adiantou que a vacina da GSK em parceria com a Sanofi, em fase de testes clínicos, deve estar pronta até o último trimestre deste ano.

Mudança nas plataformas

Para desenvolver os imunizantes em tempo recorde e oferecer uma resposta à crise sanitária em escala global, a indústria farmacêutica precisou adaptar processos técnicos e industriais.

O presidente da GSK destacou que as 13 unidades da companhia espalhadas em quatro continentes modificaram linhas de produção e equipamentos para pesquisar e desenvolver vacinas:

— A indústria farmacêutica pré-pandêmica trabalhava de forma sequencial. Agora, ela aceitou o risco e começou a trabalhar em processos paralelos de desenvolvimento. Não havia plataforma industrial pronta, e agora são dez em teste, das quais quatro tradicionais e as demais com novas tecnologias.

O diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz informou que a instituição começa a produzir a vacina, com IFA nacional, em outubro. Ele defendeu investimentos em ciência e tecnologia e nos institutos de pesquisa para reduzir a dependência internacional do país.

— A velocidade na produção no Butantan e na Fiocruz não acontece do nada. São décadas de trabalho nesta área, que permitiram assimilar esta produção de forma tão rápida. Nosso programa de imunização é reconhecido mundialmente. Erradicamos a varíola, controlamos a pólio e o sarampo — enfatizou Zuma.

O desafio da comunicação

O grande desafio, na opinião de Isabella, está na comunicação sobre a importância da vacinação. Não só no caso da Covid-19, mas de todos os imunizantes, pois há uma queda na cobertura vacinal da população brasileira, por exemplo, de sarampo e pólio.

— É preciso transformar vacinas em vacinação. Vacina não serve de nada na geladeira. A comunicação é a salvação da vacina — comentou.

A vice-presidente da Sbim observou ainda a necessidade de outros estudos sobre o tempo de eficácia da cobertura da vacina contra a Covid-19, o que demandará manter a população imunizada. Ela lembrou que, diferentemente do que ocorre com outras vacinas, no caso do coronavírus, uma pessoa imunizada ainda pode adquirir carga viral e transmitir o vírus.

Diante disso, a Fiocruz já se organiza para uma nova fase de vacinação em 2022.

— Estamos nos preparando para termos vacinas ao longo de 2022, seja qual for a aplicação, como reforço ou como novo processo de imunização, de revacinação. Porque os estudos ainda não estão completos — disse Zuma.

*Especial para O GLOBO

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