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Executivo que comandou grandes indústrias farmacêuticas no Brasil e no exterior, Theo Van Der Loo se destaca há anos como defensor da equidade racial no mundo corporativo. No dia 23/3, ele participou do lançamento oficial da “Diretriz para o Avanço da Equidade Racial no Setor Farmacêutico”, elaborada pelo Sindusfarma.
Veja a seguir trechos selecionados de sua fala durante o evento:
“Estou aqui hoje porque acho que é um pouco da nossa missão como cidadão brasileiro ajudar o país a evoluir e hoje nós temos mais da metade da população que não participa do país como deveria, como merece participar. Até porque foi essa população que construiu esse país com o próprio trabalho, o trabalho físico.
“Nós devemos muito aos afro-brasileiros, por tudo o que eles fizeram no passado. Não vou falar aqui das atrocidades e de toda a história que já conhecemos bastante, mas eu sempre digo você não precisa ser nem muito inteligente nem muito sensível para ver que alguma coisa está errada no Brasil, principalmente quando você entra em um restaurante mais sofisticado ou vai em um shopping e quase não vê pessoas negras, sendo que mais da metade da população é negra. Então é uma questão realmente de as pessoas se interessarem pelo tema.
“As empresas não são racistas; as pessoas que trabalham nas empresas é que são racistas. Então, o antiracismo começa com as pessoas nas empresas. As pessoas têm que se engajar, têm que ter um interesse genuíno em ouvir as pessoas negras, conhecer as pessoas negras, as histórias, para depois poder refletir sobre elas. Foi o que aconteceu comigo. Essa é um pouco da minha jornada pessoal.
“Comecei a conversar com as pessoas negras na empresa porque eu não sabia o que fazer ou como abordar esse tema e muitas empresas já estavam engajadas na questão de gênero, LGBT e da pessoa com deficiência. Já havia várias iniciativas na questão racial, que é uma coisa um pouco mais delicada. Então, aprendi logo no início, quando eu comecei, em 2015, mais ou menos, que o meu lugar é um lugar de escuta. Não ficar julgando as pessoas, mas ter curiosidade para conhecer as histórias das pessoas negras.
“No início dessa jornada, fui conversar com uma pessoa negra que nós tínhamos promovido em 2004, quando eu estava na Schering; era uma pessoa que foi do SAC para a equipe de vendas, e depois, quando eu voltei da Espanha, a chamei para uma conversa e ela falou para mim que se eu não abordasse o tema como CEO as pessoas negras da empresa também não iriam abordar, porque as pessoas iam pensar que era mimimi.
“Como CEO, reconheci o meu papel também. As pessoas brancas não são os protagonistas da causa, mas eles são os grandes facilitadores. Até porque, por causa das pessoas brancas é que nós criamos essa situação. O racismo não foi uma invenção de pessoas negras, foi uma invenção de pessoas brancas como resultado de todo uma história. Então, ficou muito claro para mim o meu papel nessa jornada.
“O que me foi dito e que também ficou muito claro para mim é que as pessoas negras não queriam nenhum favor na empresa, elas só queriam oportunidades; e teriam que ser muito melhores que uma pessoa branca para ter uma chance de aparecer no radar com uma promoção ou uma contratação. Essas coisas eu fui aprendendo com as histórias e conhecendo gente fora da empresa também.
“Por isso eu falo que essa iniciativa tem que ser muito genuína. A alta liderança tem que estar engajada. Vejo que aqui tem muitas pessoas negras nas empresas ligadas ao Sindusfarma, mas o importante é termos eventos como estes com os CEOs das empresas. Porque eu já participei de várias palestras com CEOs, onde no final eles vêm me parabenizar, falam que eu estou certo, que precisa ser feito, mas se você perguntar um ano depois para esse senhor o que a empresa dele fez em relação ao racismo, à inclusão racial, a maioria não fez quase nada. Porque se fosse fácil fazer a inclusão racial, a gente não estaria aqui falando sobre isso.
“O preconceito é uma coisa muito ruim, uma coisa que a gente não se dá conta. Todos nós temos preconceitos. Eu, por exemplo, como homem branco, estou sempre refletindo. Eu tenho que me reformatar um pouco em relação a isso e fazer um “reset” mental. Os homens brancos são aqueles que têm o poder. Eles têm o poder de acelerar todo esse processo de inclusão racial, mas também têm o poder de não fazer nada e deixar a coisa em banho maria.
“Então, essas conversas inconvenientes, como eu falo, temos que ter nas empresas, porque é a única forma de a gente avançar realmente. Como, por exemplo, com programas específicos para pessoas negras como a Bayer tem feito e o Magazine Luiza. São experiências muito boas, porque a gente somente falar sobre inclusão racial e seguir fazendo sempre a mesma coisa na hora de contratar pessoas, na hora de promover pessoas e continuar com a mesma forma de trabalho, esse avanço vai ser muito lento.
“A própria indústria [farmacêutica] tem um bom exemplo. Nos anos 1980, quando eu comecei a trabalhar na indústria farmacêutica, quase não havia mulheres em marketing e vendas. Aqueles que são mais velhos vão se lembrar também. Hoje, quase metade das pessoas de marketing e vendas são mulheres. Essas mudanças acontecem. A gente não se dá conta, mas já aconteceu na indústria farmacêutica.”
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